quarta-feira, 19 de agosto de 2009

Da parede eu raspo... você.



Ás vezes eu sento, leio, leio, leio e todas aquelas palavras não me dizem nada. Eu não sei mais ao certo se algo quer me dizer alguma coisa. Ás vezes eu me pareço o reflexo de alguém que pensa que já viu de tudo nessa vida: alguém que não viu nada. Ou pior, alguém que está vendo tudo passar.

Nesses últimos tempos eu não consegui me decidir muito bem. Não sei se quero me sentar e ver a galeria das vidas desfilando por essa longa avenida. Jogar ovos de vez em quando, pra não perder a prática. Ou então me encaixar em uma dessas alegorias enormes e frágeis, tentando suportar o calor e o ócio. Ambas não me parecem escolhas satisfatórias.

A única coisa que consigo compreender é que varri muitas coisas pra debaixo do tapete. E nessa sala enlameada e desconfortável, preferia pelo menos um pouco de limpeza. Mas não tem mais jeito. Eu esfreguei com tanta força e o papel de parede apenas ficou desbotado. Os rostos também estavam lá. Normalmente me custa acreditar que eu já fui um pouco daquelas coisas. As coisas escritas nas paredes.

Foi então nesse momento, enquanto lia parágrafos complicados, que me dei conta de que nem ao menos sabia aquele idioma. Ou pelo menos eram especulações que não me interessavam. Nada mais me interessa por completo. Nem eu, nem vocês.

Por isso li, li, li, sublinhei, desenhei interrogações tortas. Pensando bem, é possível que o manuscrito esteja virado de cabeça pra baixo. Na verdade está tudo um tanto na diagonal, exatamente igual ao mundo, que de certo já fora quadrado e plano.

Como disse, a única coisa que sei é que não tenho mais nada que possa ser dito. Algo dentro de mim flameja indicando o que já conheço: “você não conseguiu dizer absolutamente nada do que precisava”.

4 comentários:

Luiz Fernando "Mirabel" disse...

Assim como muitos acreditavam no passado, penso que o mundo é plano e quadrado. Um dado com seus lados repletos de sorte e azar.

Bom texto!

Um abraço!

Louise disse...

Não é sempre que estamos "abertos" para a leitura. É que nem a inspiração, não adianta forçar.

Reinaldo Glioche disse...

Belo texto! ´Fala a verdade, a tristeza inspira que é uma beleza né? Certa vez a cantora Amy Lee, vocal do grupo Evanescence, disse que adorava quando rompia seus realcionamentos.Pq era ali que vivenciava seu ápice criativo. Não sei se intui corretamente, mas acho que vc estava um tanto triste quando concebeu esse belo tratado sobre interiorizar perspectivas. Bjs

Excalibur disse...

ver, ver, ver... visão demais!
talvez, quem sabe, está na hora de usarmos outros sentidos...

é isso, sentir mais.
"ver" às vezes é tão distante...