sexta-feira, 10 de setembro de 2010

Tô de Saco Cheio


Tô de saco cheio de fazer nada, de vir trabalhar, de ficar em casa, de perder, de ir pra faculdade, de não estudar (mas precisar), de não ter perspectiva, de olhar pro espelho e achar uma merda mas mesmo assim não fazer nada a respeito.

Tô de saco cheio dessa fase interminável, da indefinição, das repetições, da incapacidade de get over it, da impossibilidade de esquecer, de maquinar coisas absurdas e baixas, de pensar em coisas terríveis e sentir na pele, da inveja, do ciúme, da desconfiança.

Tô de saco cheio de gente inteligente demais, conhecedora demais, terapeuta demais.

Tô de saco cheio de filme cult demais, de viado demais, da chatice que é ter que aceitar tudo, de não poder criticar ou ver gente criticando filme com temática homossexual porque "isso é preconceito", quando na verdade grande parte dos defensores de viados e afins, quer enfiar goela abaixo um monte de sacanagem bizarra e chamar de amor. De saco cheio do bissexualismo e sua promessa de "sexo do futuro", porque "gostar de pênis e vagina é ser completo". Cansada de heterossexuais que pensam com o pau e a buceta, porque um pertence apenas ao outro. Cansada de todas as categorias sexuais

De saco cheio da incapacidade de perceber que se partiu pra violência e se fez tudo errado. De saco cheio das pessoas que se consideram as excluídas da classe, as coitadas, as sofredoras. Acho boring pra caralho, bring something new, okay? De saco cheio de visuais adotados, da seguinte frase "não me rotule que eu não produto" e do quanto ela é dita com tanto orgulho e paixão. Você não é único, você não é invencível. Você é sim um produto. Produto de uma sociedade decadente, repetitiva e selvagem.

Tô de saco cheio do peito apertado, dos sorrisos falsos, dos choros forçados, das vozes, das musicas chatas, de não poder me libertar do mundo, de ter que aceitar o sistema, de me sentir mastigada e meus restos estarem entre os dentes dos monstros da sociedade.

Tô de saco cheio de olhar minha página no We Heart It, perceber que I heart everything there, mas nunca serei nada daquilo (nem que eu me esforce). De saco cheio das belas ruivas enigmáticas, dos bolos cobertos de nutella, dos graciosos cupcakes que nunca irei provar, dos brilhinhos e balões, das fotos perfeitas. Tudo porque não vou conseguir reproduzir ou criar nada daquilo, e isso enche e desbota o indivíduo.

Tô de saco cheio de não entender ou não me forçar a entender o que acontece comigo. De saco cheio das minhas variações de humor, da pulseira do equilíbrio, das jóias que não tenho, do desinteresse pela escrita, leitura, filme e informação. De saco cheio, aliás, de quem só chama cinema de sétima arte.

De saco cheio de desabafos, gordos chorosos e magros orgulhosos (e vice-versa). De pessoas que pensam que cortar um pedaço generoso do estômago é a solução. De saco cheio de calorias, viagens, imagens e pessoas super hiper felizes. De saco cheio de tudo, e da aplicação sem sucesso de everybody's talkin' at me, I don't hear a word they're sayin', only the echoes of my mind.

De saco cheio de mim, de você, deles. Sobretudo deles. De não saber terminar isso, ou melhor, de não ter certeza. De sentir que após a última palavra, ainda faltará um pedaço a ser celebrado. De perceber que isso nem sequer pode justamente terminar. Que nada poderá ser feito. Jamais.

E de saber que eu tô de saco cheio.

quinta-feira, 29 de julho de 2010

Move on Alone

Temo ter descoberto uma das partes mais desagradáveis em mim. Desagradável não pelo fato em si, mas por ser prejudicial.

Tudo começa com o veneno. O veneno que fervilha dentro dos compartimentos, corações e veias. O veneno que enegrece, agride, regride. O veneno que mistura e gera o medo. O medo de perder, decepcionar, responder, encarar, ganhar. O medo de ser e aceitar.
Essa droga que se espalha e faz de mim um ser, outrora inquebrável, a criatura mais frágil de todas as criaturas.

Preferia ser tudo que idealizei pra mim. Quisera eu ter, nos meus atos, a solução de todos esses problemas que criei e dei nomes. O estalo dos dedos determinando o fim da escuridão. O fim de tudo.

É curioso como eu sempre armei todas as armadilhas para me pegar... E falhei. Falhei em tentar explicar, em entender, em aceitar. Eu falhei em amar a minha maior criação: eu.

Temo que logo me deixarei sozinha, me livrarei da corda no pescoço. Seria melhor assim. Qualquer coisa é melhor do que enfrentar o exército de mim mesma, batalha essa que jamais poderei vencer.

I feel so sad, now that she's gone
i've been lovin' that woman too long
there's no place to go, 'cos my friends have all moved
got nothin' but to sit in the sun
got tired of cryin', guess i'll move on alone
my bed is so empty, and my heart is grown cold
guess i'll just die before i grow old
the place is untidy, that's cos i ain't done my dirt
i just grown tired of thinkin'
got tired of cryin', guess i'll move on alone


(Move on Alone, Jethro Tull)

E ainda ouço, entre ecos e risadas, a voz dele dizendo “tão forte, mas tão frágil essa minha mulher”.

sexta-feira, 26 de fevereiro de 2010

Desconstruindo Tila


Comecei a perceber recentemente que estou me entregando a um processo de desconstrução. Não tenho certeza se já atravessei essa ponte antes, é bem provável que sim. É difícil de lembrar depois que essas coisas acontecem.


No começo eu apenas achei que eram idéias encostadas na parede de mim mesma, deixadas de lado como se não tivessem importância. Não pelo menos naquele momento. Mas tinham, sempre têm, e eu sabia que elas voltariam a correr por dentro do meu mundo quando tudo começasse a desabar.


É incrivel como em um processo mecânico de implosão, existem detalhes calculados na estrutura para que se crie pontos fracos com o intuito de colapsar. E foi exatamente assim. Todos os pensamentos que estavam escondidos nas fendas daquela velha casa começaram a correr e se dispersar na poeira. Não decidiram pular pela janela, o que seria mais fácil, pois eles sabiam que ainda precisavam estar lá. Que ainda precisavam ser dentro de mim. Simplificando, tudo de ruim estava vindo à tona exatamente no momento em que as coisas boas começaram a ruir.


Primeiramente eu pensei que essa destruição duraria quinze minutos. Logo depois eu me convenci que um dia ou dois seriam aceitáveis. Agora vejo que há meses os pedaços estão se soltando e eu apenas observo de cima do muro o que ainda resta. E eu, definitivamente, não sei o que fazer.


Espero que essas pedras me atinjam logo, certeiramente, porque é através da dor que se aprende. É através da dor que se raciocina. Nunca passei por um processo de reciclagem tão lento, tão desavisado. Um processo que não consigo fazer entender. Não consigo aprender nada. Absolutamente nada.


E isso que restará quando finalmente tudo se acabar e eu ver meu mundo despedaçado dentro de mim.

sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

José não faz nada direito


- Ô José, traz aí a chave de fenda.


O filtro quebrou. Seria mais prático se essa peça evitasse que passasse tudo quando quebrasse. Talvez até demorasse um tempo para eu perceber que tinha algo errado. Que algo não estava fazendo seu devido trabalho. Mas até lá eu já teria dito e feito muito do que eu sonho em fazer e dizer. O fato é que o filtro quebrou e agora passa tudo. É, nêgo. A barragem rompeu e eu queria poder dizer que não sinto mais nada.


Eu não consigo me lembrar exatamente quando isso aconteceu. Talvez eu sentisse um pouco de água vazando dentro de mim, mas nada de mais. Nada que um pouco de estresse não explicasse. Eu deveria ter imaginado que se toda essa água estava escoando, provavelmente estava faltando em algum lugar. O lugar da água não é embaixo dos pisos, em cima do teto, dentro da cabeça. É dentro dos canos.


- Mas não foi o filtro que quebrô, dona? Cê num me falou nada de cano não.


Acho que uma imagem descreveria melhor minha cara de surpresa e insatisfação comigo mesma.


- É o filtro, claro que é. Cano é só uma forma de dizer. Uma metáfora. Você não entende nada. Olha, quer saber, vai cuidar do filtro. Vai cuidar que tá tudo passando, até o que não eu quero te dizer.


Depois que José finalmente entrou pelos meus ouvidos correndo, eu ouvi o barulho dos outros trabalhando. Trabalhando para consertar todo aquele transtorno causado por alguma válvula estúpida. Acho que é de válvula de escape que chamam isso por aqui.


- Tudo certo aí?


- Tudo, dona. Consegue sentir?


Eu conseguia sentir tudo fluindo. Fluindo até demais.


Porra.


José não faz nada direito.

sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Parte considerada mais desprezível ou reles da sociedade.


Eu já tenho dito durante esses dias que a vida deve estar querendo me ensinar alguma. Eu, exercendo meu papel de “gente”, estou aqui para analisar e aprender. Hoje, de repente, me ocorreu que talvez a vida queira amadurecer uma idéia que eu tenho em mente. Talvez o amadurecimento dessa idéia se torne uma concepção forte, um caminho a ser seguido. Mas (ainda) posso dizer que é um caminho para se seguir de mãos atadas.

Eu não sei quanto tempo faz. É tempo demais pra me lembrar, mas eu perdi o respeito pela vida. Eu estou cansada de todas essas parafernalhas de direito humanos dizendo que todos têm o direito de viver em condições favoráveis à vida. Eu discordo. Dizem por aí que é culpa do sistema que existam assaltantes, vagabundos, homicidas. Eu discordo. Eu acho que, como toda a sociedade, existem escalas em que pessoas se enquadram. Esse grupo dos animais selvagens, eu chamo, em particular, de escória. Escória, do grego skória, que significa parte considerada mais desprezível ou reles da sociedade.

Reabilitação, reeducação, alimentação, oportunidade. Eu não acredito que vá funcionar. Tem gente que nasce pra ser ruim. Quem nasce assim, morre assim. Sabe aquele adágio? “Pau que nasce torto nunca se endireita”. Pois é. É nisso aí que eu acredito. É certo que existem diversos depoimentos por aí que começam com “eu matava e hoje eu amo”. Eu, sinceramente, não consigo acreditar. Principalmente se a pessoa for, em essência, ruim.

Não estou dizendo que devemos todos nos movimentar para retirar os benefícios dos menos privilegiados. Não. Estou dizendo que devemos nos movimentar para aniquilar os mais oportunistas. E eles estão em qualquer lugar, sentados esperando você passar para arrancar até o que você não tem.

Aí então eu pensei depois de concluir tudo isso dito anteriormente: por que preciso ter respeito pela vida de alguém que não tem respeito pela minha? Que não sabe de onde eu vim, o quanto eu suei para estar aqui? Que não sabe se eu já senti fome, se eu tenho alguém ou algo digno de que se querer? Por que?

Como eu já disse um sem número de vezes: o mundo se transformou em uma enorme privada. E como se já não bastasse, a merda ainda veio manchada de sangue.

O pensamento estruturado a que me refiro no começo desse pequeno pedaço, é que agora só nos resta uma questão. É muito simples: identificar, alinhar e atirar. Essa é a solução. Não existe mais espaço para “tentar mais uma vez”, para “educar mais uma vez”.

A solução é matar.

segunda-feira, 19 de outubro de 2009

Deixe o mundo ser que eu vou estar


Eu tive um insight importante hoje. Pensamentos rolaram na minha mente mais ou menos como uma interrogação. Interrogações levam à soluções. Eu percebi sutilmente que a vida está querendo me ensinar algumas coisas nesses últimos meses. Percebi também que provavelmente eu não estava – e ainda não estou – vendo com muita clareza.

Alguns meses de terapia me ajudaram a ver muitas coisas com uma certa simplicidade. Primeiro pega-se toda a coragem em dizer coisas estranhas e parcialmente íntimas, que antes eram obscuras interrogações, e as transforma em simples pontos finais. Em algumas situações até seriam frases exclamativas. Não tenho plena certeza desse insight, mas acho que ele veio na hora certa. Estou concluindo coisas absolutamente importantes sobre a vida e sobre a repercussão de algumas ações.

Por exemplo, a dualidade entre querer falar e querer não falar. Entre as pessoas serem estúpidas e não serem estúpidas. Não consigo escolher um lado de forma concisa. Existe uma porta dentro da minha mente levemente entreaberta, deixando as coisas fluírem e, sobretudo, a luz passar. É nessas horas que eu tenho certeza que tem uma exclamação a caminho.

Nos últimos meses pude perceber, sem muita modéstia, que as verdades andam pendendo para o lado das “pessoas estúpidas”. As pessoas acham engraçado, assustador e até violento quando eu digo que a humanidade virou um câncer que precisa ser raspado até a sua total eliminação. Estou concluindo que (in)felizmente eu estou certa. Jim Morrison foi mais sutil e apaixonado nas suas palavras dizendo que as pessoas são estranhas. Eu não acho que elas sejam estranhas de verdade, a não ser que estranheza tenha virado uma doença de uns anos pra cá. Na minha visão, as pessoas são seres extremamente arrogantes e certos de si. As pessoas são burras.

Enquanto vejo por aí algumas almas boas se salvando de qualquer raio que venha nos partir, a grande maioria está sedenta pelo seu, pela sua idéia, pela sua própria opinião. Quando Shakespeare disse, através de Hamlet, “que obra-prima, o homem”, ele deveria ter vivido mais alguns séculos para perceber que ele nem é tão infinito assim em suas faculdades ou sequer é semelhante aos anjos pelos seus atos. O homem não é, na verdade, semelhante a nada fora o seu próprio reflexo. Um espelho de diversas imagens incontidas em cada olhar. E devo dizer que meus olhos estão cansados.

Seguindo essa linha de raciocínio, me lembra a primeira questão em si: querer falar e querer não falar. Acho que, sendo honesta nessa síntese, as verdades irão pender para querer não falar. Não falar o que eu penso, o que eu sinto, o que eu acho. Não agir com a arrogância que esse nobre ser, o homem, decidiu adquirir como uma fonte inesgotável de sua natureza. A natureza humana, que como diz Lars Trier, é intrinsecamente ruim. E não há nenhuma solução diferente de cortar todo o mal pela raiz.

A verdade nua e crua disso tudo é que eu não quero que as pessoas simplesmente se calem dentro do meu mundo. Muito pelo contrário. É de grande importância que elas continuem falando e expondo toda a sua gama de idéias absurdas. Citando Voltaire, eu posso não concordar com o que você diz, mas defendo seu direito de dizer. O seu direito de dizer alimenta a minha tese, digere minhas dúvidas e gera minhas exclamações. A humanidade, em que sumariamente estou contida, virou uma grande privada de descarga quebrada. Não tem mais jeito.

Meu pai me disse certa vez que eu preciso parar de tentar enfiar minhas concepções na cabeça das pessoas. Pois bem, ele estava certo. Ele disse ainda que eu preciso aprender a aceitar o mundo porque faço parte dele. Aí está ele certo mais uma vez. Eu aceito essa nova idéia e a adapto para a minha realidade: deixe o mundo ser, que eu vou estar.

quarta-feira, 14 de outubro de 2009

Aquele maldito botão.

Quando me pego pensando, e afirmo que tem sido em momentos raros, tenho desfrutado do prazer de pensar em nada. Pensei que, como em grande parte dos momentos da minha vida em que minha cabeça estava cheia de problemas meus e dos outros, eu jamais conseguiria esvaziar minha mente sem algum esforço preliminar. Mas aí está. Sem nem sequer mover um dedo, tenho minha mente vazia como um papel novinho cheio de nada escrito. O único problema é que existe alguém dentro da minha cabeça pronto para decidir o momento de tudo se transformar numa folha em branco.

Eu sempre imaginei o quão relaxante seria desligar-se durante alguns segundos. Aqueles segundos que mais parecem horas, até alguém te trazer para realidade berrando seu nome pela terceira vez. Sempre imaginei o quão seria relaxante afastar os pensamentos indesejáveis e correr por um espaço ilimitável de inexistência. Aí aconteceu, e na realidade está começando a me incomodar o fato de não ter nada na cabeça.

Eu acredito, observando a evolução descrita em mim mesma, que essa perspectiva só me levará a não querer absolutamente nada de nada. Eu decidi sentar e esperar o tino da mudança acontecer, as coisas se clarearem e tudo ficar mais nítido. No final das contas, as coisas ficaram tão claras que eu não faço idéia do que está escrito nesse papel. Eu nem sei, pra ser honesta, se tem mesmo algo escrito aqui.

Quando passo a tentar imaginar o que pode ser feito para que o grito saia boca a fora, para que os corações se partam e as pessoas sumam, qualquer possibilidade de tinta começa a derreter e borrar todo o papel. Bem, não se pode ter tudo nas mãos tão facilmente.

Decido então esforçar-me mais, na esperança de que finalmente os rabiscos virem palavras legíveis. Forço minha mente sujando meu travesseiro de vermelho. Quando a maquinaria, trabalhando com força total, espirra vapor pelos meus ouvidos e óleo pelos meus olhos, alguém pressiona aquele maldito botão e tudo é esquecido em um infinito espaço de campos brancos, que logo irá se transformar em um eco insistente, berrando sem dó nem piedade meu nome pela terceira vez.