Não faz muitos minutos em que li um texto sobre amigos pássaros. Sabe como é, né? Aqueles amigos que estão lá e de repente ficam maduros o suficiente, ou imaginam que sejam, e decidem escancarar as portas da gaiola e se mandarem.
Ah, mas isso me fez pensar.
Não pude deixar de recordar, evidentemente, que tudo que vai embora deixa algo de alguma forma. Seja um sorriso, uma lembrança, um vazio ou um eterno pesar. Quando meus amigos pássaros decidiram voar, só pude imaginar que mantive a gaiola muito bem fechada. Eles alçaram vôo, olharam para tras e dispararam toda a merda contida nos seus corpinhos e sujaram toda a minha sacada. E não posso negar que era uma bela sacada... Ou talvez deva dizer uma bela sacana ?
De qualquer forma, pus-me a limpar absolutamente tudo, devolvendo o brilho a minha grande sacada circular. Ventou tranqüilamente e eu descansei. Quando o sol, sem hesitar, começou a queimar meus olhos e invadir minhas narinas, eu vi o pássaro. Tava lá me olhando, prestes a cantar aquela história que eu já conhecia. Nesse momento definitivamente eu tenho parafrasear Rogério Skylab em Matador de Passarinho, “Beija-flor tu és tão lindo, mas chegou a tua hora, não beijarás mais ninguém”. Foi isso aí que eu senti, mas com menos fúria, lógico.
Então começou aquela puta cantoria que eu não queria ouvir. Aquela puta sujeira que eu não queria limpar. Fiquei lá observando e desejando a ida daquele pássaro amigo. Parece cruel, não ? Talvez seja, mas eu não consigo, eu não consigo mentir falando a verdade. Aí então, observei em um momento de descanso, que outro pássaro vinha lá ao longe reclamar o alpiste e água fresca. Reclamar o sumiço e a mudança.
Foi então que me dei conta que meus braços estavam repletos de penas. Embora minhas palavras mais parecessem com piados, eu não tinha a menor vontade de voar e me fazer sujar a sacada dos outros. Aí eu fechei as portas da minha gaiola, deixando a água fresca e o alpiste envelhecerem ao relento.
5 comentários:
Fiquei TÃO feliz por ter feito você pensar sobre os pássaros a ponto de escrever um texto. Por sinal, um dos mais engraçados que você já escreveu. Realmente existem pássaros estorvos, portanto pegue o estilingue e use a seu favor, para eles nunca mais beijarem (sou podre e ri dessa parte). Eu também não tenho muita sorte com os pássaros. A maioria mora longe ou foram embora.
Ah, ao menos, ao vê-los voar, podemos sempre olhar para o céu...
Vários dos meus amigos pássaros fugiram da gaiola sem ao menos me deixarem perceber. Talvez era pra ser. O ruim é ter de trancafiá-los dentro dela.
sempre que requisitam minha volta a gaiola, eu faço questão de fechá-la muito bem quando eu entro.
Quando não, fico estupidamente voando ao redor da casa a qual a gaiola se encontra...
Bela forma de capturar momentos tão delicados de uma relação. A amizade pode ser tão fugaz quanto um vôo de um passáro? Pode ser controlada? Gostei bastante!
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