sexta-feira, 15 de junho de 2007


Vagava cambaleando pela noite. Enfiava as mãos nos bolsos da jaqueta procurando notas amassadas.

Naquele boteco fétido os fracassados sentiam-se em casa, livres para gritar. Era simplesmente um mundo a parte. Um mundo pobre, podre e degradante. Um mundo quase particular.

O cheiro insistente de urina e álcool infestava cada canto daquela espelunca, mas já havia se acostumado. A dureza do mundo real ficava porta a fora, bem atrás de suas costas. Era só se virar.

Sentou-se numa mesa afastada. A luz baixa lhe dava uma transparência inexplicavelmente confortável. Através do seu olhar ébrio observava a podridão.

Acendeu um cigarro. O décimo da noite. Podia imaginar a negritude dos seus pulmões. Estava fodido. Sua boemia tornou-se uma doença, e seu peso era, sem dúvida, culpa. Pediu uma dose de uísque barato enquanto observava cada pessoa daquele bar. Mulheres bêbadas, fedendo a fim de noite e rejeição. Homens arruinados pelo tempo. Nas entrelinhas de cada olhar, cada gesto e cada riso exacerbado, estava um marca de dor e perda. No calor da noite, festejavam suas fantasias mais secretas.

Todos tinham o mesmo rosto. O mesmo sentimento intercalado, escondido. Era puro abandono. Caídos no esquecimento em um bar sujo. Todo aquele ambiente escroto participava do mesmo desejo louco, frenético e absurdo de levantar-se e viver. Mas o escuro e a podridão eram tão... atraentes.

2 comentários:

Anônimo disse...

sinceramente eu devo ser uma viciada em seus texto *_* eu viajo muuuuuito, imagino as cenas, presencio, estou la =~~ sao tao vividos!Daqui a um tempo ja deve dar pra fazer um mini livrinho com inumeros textos seus!!1imagine só!!!!@_@

X@@@@@@@

Anônimo disse...

Tee, acabei de ler esse texto e o mínimo que posso dizer é que adorei! Você escreve muito bem. Continue assim e não desista deste talento.
Um beijo. ;)