sexta-feira, 19 de fevereiro de 2010

José não faz nada direito


- Ô José, traz aí a chave de fenda.


O filtro quebrou. Seria mais prático se essa peça evitasse que passasse tudo quando quebrasse. Talvez até demorasse um tempo para eu perceber que tinha algo errado. Que algo não estava fazendo seu devido trabalho. Mas até lá eu já teria dito e feito muito do que eu sonho em fazer e dizer. O fato é que o filtro quebrou e agora passa tudo. É, nêgo. A barragem rompeu e eu queria poder dizer que não sinto mais nada.


Eu não consigo me lembrar exatamente quando isso aconteceu. Talvez eu sentisse um pouco de água vazando dentro de mim, mas nada de mais. Nada que um pouco de estresse não explicasse. Eu deveria ter imaginado que se toda essa água estava escoando, provavelmente estava faltando em algum lugar. O lugar da água não é embaixo dos pisos, em cima do teto, dentro da cabeça. É dentro dos canos.


- Mas não foi o filtro que quebrô, dona? Cê num me falou nada de cano não.


Acho que uma imagem descreveria melhor minha cara de surpresa e insatisfação comigo mesma.


- É o filtro, claro que é. Cano é só uma forma de dizer. Uma metáfora. Você não entende nada. Olha, quer saber, vai cuidar do filtro. Vai cuidar que tá tudo passando, até o que não eu quero te dizer.


Depois que José finalmente entrou pelos meus ouvidos correndo, eu ouvi o barulho dos outros trabalhando. Trabalhando para consertar todo aquele transtorno causado por alguma válvula estúpida. Acho que é de válvula de escape que chamam isso por aqui.


- Tudo certo aí?


- Tudo, dona. Consegue sentir?


Eu conseguia sentir tudo fluindo. Fluindo até demais.


Porra.


José não faz nada direito.

2 comentários:

Louise disse...

Mas é um ZÉ mesmo. Zé é extremo, não tem noção de equilíbrio.

• Viviane Nascimento • disse...

Eu não posso sequer consertar, já que não tenho filtro. E isso pra mim não é um problema... Que bom!